<    

quarta-feira, julho 06, 2005

Revisão de Valores, de prioridades na vida.

6 de Julho
Tocando o limite. Superar nossos limites? Mas, onde está o limite de cada um?
O que é muito? O que é pouco? O que é importante, o que não é? E, de repente, tudo se inverte.

Uma pessoa escreve algumas palavras para que a outra tente copiar: Rosana, Vanilde, Teti, Mãe. É quase impossível reconhecer o que foi escrito. Só com muita boa vontade reconhecemos algumas letras. Dá para elogiar alguém assim? Claro que não, ainda mais sabendo que essa pessoa tem 18 anos?

Pois são esses garranchos estão enchendo de alegria e esperança algumas pessoas como Vanilde, Fabiana, Teti, Hilário, Iria. Eu também vibro com cada garrancho da Rosana. Fazem quase três meses que a Rosana, de 18 anos se acidentou gravemente e, num estado de coma em UTI, era dada pelos médicos como irreversível e sem chance de viver. Estava fora dos limites de salvação pelos médicos. A família decidiu retira-la do hospital. Rosana passou a ser cuidada pela irmã Fabiana, sua mãe Vanilde, pelo namorado Teti, pelo irmão do Teti, Hilário, e sua esposa Iria, na casa deste casal, no fundo da sua loja Itapocoroi, de livros, revistas e agência dos correios. Revezam-se entre eles. O trabalho é desgastante pois Rosana já move bem o braço direito, e muitas vezes tenta se livrar dos tubos que a alimentam. Com as dores e com a dificuldade de ser compreendida, enerva-se e sua força fica muitas vezes incontrolável.

Não fala pois perdeu bastante do hemisfério esquerdo do cérebro. Hoje, fui conhece-la e levar palavras de incentivo aos que cuidam dela. Estava calma, após receber um banho de toalhas umedecidas. Puxava com muito esforço a coberta, pois sentia frio. Mas conseguiu puxar. Apresenta reações de progresso bastante animadoras. Consegue pegar coisas pela cor, já segura uma caneta, já coloca a pressão certa na caneta quando tenta escrever. Vibrei com tudo isso. É para comemorar tudo. Rosana aceitou que eu segurasse um bom tempo suas mãos. Vez ou outra abria um dos olhos. Parecia cansada após uma noite sofrida de muita dor. Logo que eu saí, veio a ambulância para leva-la para novos exames em Itajaí.

É a nova rotina dessa turma de gente muito especial, capaz de viver em dois mundos muito diferentes. De um desses mundos a Rosana se distanciou (o dos impostos descomunais, das CPI’s, das drogas e violência, do emprego e desemprego, do mensalão, da Revista Caras, do Roberto Jefferson, Maluf e Marcos Valério). E entrou em um outro mundo, onde renasceu e dá seus primeiros passos para interagir com as pessoas que também tentam entrar nesse mesmo mundo, com paciência, desprendimento, com carinho e amor. Sem piedade da Rosana e sem auto-piedade. E assim, farão desse mundo da Rosana e com a Rosana, um mundo sublime, com momentos de muita grandeza para superar os piores momentos, com humildade, amor, sabedoria e solidariedade, onde o mundo Daslu, da ostentação, riqueza, competição e vaidade não fariam a Rosana avançar um só milímetro.

E viva a Rosana, Vanilde, Fabiana, Teti, Hilário e Iria. Brava Gente Brasileira, com muita Força Interior! E também é bom que todos saibam que a Iria escreveu um livro romance, com o título “Desistir, Jamais!”. Eu li e gostei muito. Comecei e não consegui parar. Um romance cheio de suspense retratando bem a dura realidade de alguns ambientes onde as pessoas vivem para sobreviver. Iria Schnaider é uma Agatha Christie catarinense. Não pode parar de escrever.